domingo, 11 de dezembro de 2011

No som que vem do mar em certos dias, pode-se ouvir o eco da voz de Cecília.

Sabe, Cecília, eu não presto
nem tenho ouvidos com que escutar tua voz.
É preciso estar sóbrio pra andar em solo sagrado,
eu que por vezes sequer tenho pés.
Tive um bom pensamento longínquo,
distante
E ao me descobrir
descubro-te me descobrindo essencialmente.

Em torno disso irradia a impressão de que em certos dias
no som que vem do mar, pode-se ouvir o eco de tua voz límpida.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

vergonha alheia de mim mesmo
fora de órbita, perdido o prumo.
Sensivelmente tocado pela insensibilidade
da pedra,
da árvore que não dá ( nem daria se pudesse)
frutos.
Sensivelmente tocado pela amarga descrença
que só sem querer vai criando em si
a forma de um bem querer.
Mergulhando num anseio de torpor,
pelo corpo inteiro feito de alma,
de calma que é preciso para não endoidecer.
De forma que é preciso evitar viver,
conforme ela vai indo para cada vez mais longe
parecendo ser que eu de mim
vou ficando distante.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

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concretizei meus sonhos
e agora tê-los
é tão mais pesado
(também pudera
ora, se não fosse...)
são todos eles feitos
de concreto armado

sábado, 22 de janeiro de 2011

Sob encomenda

Eu nunca precisei te fazer um poema
A não ser esse poema
que diz que não o fiz

Diz como quem diz no escuro
Como quem olha no silêncio
e sabe que tanto faz

Tanto faz esse poema
Tanto faz o pra quem seja
não diz mais
do que o nada demais:

Apenas o exatamente impreciso
o estritamente vago
o vulgarmente raro

O que não te escrevi
Está escrito em ti
E eu não sei bem te ler
Se fosse fácil, transcreveria
E tu acharia que eram minhas
as palavras tais
Um poema já nasce feito
Não se faz

Há sombras de versos dionisíacos
em teu olhar
auroras acalentadoras em tua voz
e desatinos intraduzíveis em teu desejo

Do que sei dizer: só.
Não olho,
entrevejo.