quinta-feira, 25 de março de 2010

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Ele carregava o seu próprio cadáver no olhar
e toda escuridão vinha de suas palavras
Ele havia decidido e dessa decisão
o mundo todo dependia
e enquanto o mundo pendia
Ele contava os seus passos
distraidamente sobre as poças iluminadas
Morrendo de medo
de que algo, qualquer coisa
rompesse o tênue instante
onde tudo era claro e límpido em sua alma
E quem acompanhava, olhava de longe
porque ele abraçara a solidão
e eles dois lhe bastava

Sentira o metal frio em sua mão
tão frio e pesado como a luz daqueles dias
o cano na sua cabeça, de olhos tão bem fechados
o silêncio imenso e absurdo...
quando então fez-se mais escuro
da noite o que escuro já estava
já era hora, rompeu-se a mágoa
E com um gesto de impaciência
ele volta pra casa.

Cruzou por mim e passou, só passou
como quem não cruzasse por nada
e apenas confere seus passos
tristes, sobre as tristes poças iluminadas

sábado, 13 de março de 2010

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Um dia de mar pra acalmar meu peito
Que é descompasso por não saber de ti
Que é o mesmo não saber de si
Que é o mesmo não saber e só

sábado, 6 de março de 2010


Buquê amarelo

Tenho medo de dizer o que eu quero
De que me entendas errado
De que me entendas certo
tenho medo de teus olhos medrosos

Olhos feitos o de criança assustada
Mas numa idade em que já não se chora
Morro de medo que me redimas agora
Talvez seja pior que tu não me perdoes

Morro de medo do medo e é medo
de ir atrás da morte quando é hora da vida
De tu me dar o que quero
De te dizer o que digo
E de me encantar mais do que devia

terça-feira, 2 de março de 2010

Silêncio cozido 2

No lixo da cozinha

a casca do silêncio
me lembra o tempo
em que eu esperava
que brotassem palavras
e mais e mais palavras
de dentro de ti