sábado, 12 de dezembro de 2009

In memoriam de mim

Aos setenta anos de idade
eu parei de escrever poemas
eu sentei na beira do abismo
e abismo é uma forma carinhosa de dizer

Aos setenta anos de idade
eu dei descarga na minha alma
eu descarreguei o meu revólver
e perdi aquele último trem

Eu chorei que nem chora uma criança
eu sorri tão sincero como se fosse desdentado
Aos setenta anos de idade
eu propus e aceitei um brinde a mim mesmo
Fundação

Nasci numa sala de espera e nunca mais sai de lá Da sombra o anjo cínico sorri e decreta: Vai, márcio, escrever torto em linhas retas

sábado, 7 de novembro de 2009

Do dia em que eu verifiquei que realmente
eu não sabia escrever sonetos

Vontade de escrever um soneto
De fazer um soneto bêbado
De enquanto amarro o cadarço
Desamarrar meu pensamento

Se ela dissesse o que eu quero
eu ouviria mesmo sem querer
só que ela quer o que ela quer
e que eu não presto é a conclusão

Porque eu nunca presto atenção
E a cidade não presta, além
de eu nunca saber o que fazer

Se compro feito ou assassino o prefeito
cismo de achar que seriam bons desfechos
Só o soneto acha que não

sábado, 10 de outubro de 2009

A bem da verdade
nunca achei os triângulos amorosos
lá esses amores
sequer essas triangularidades.
Repara:
quase nunca é que não se trata
de apenas três bestas quadradas.

sábado, 19 de setembro de 2009

No dia h, na hora d

Escrevo palavrões na testa
e saio como se fosse um cisco no olho da rua
Componho terríveis e comoventes versos de amor
para as mais suaves melodias demoníacas
te digo e juro que te amo
enquanto te apunhalo carinhosamente- pela frente
e depois pervertidamente - pelas costas
bebo sofregamente um copo d'água
enquanto arranco um por um
os cachinhos do meu anjo da guarda
e não me arrependo sequer de tudo
e me arrependo até de nada
inclusive de rabiscar nas paredes
da minha mesma sempre outra casa
que amanhã foi o dia mais infeliz da minha vida

quinta-feira, 27 de agosto de 2009


Em vésperas de saudade


Da cidade, hoje, quero o silêncio
sem toques de tambor
transes pelas esquinas
assembléias de deus
ou legislativas
nenhuma maneira de ver
o que ali não está

Dessa província em que a gente não cabe
quero um só retrato: o mais nítido
todos os buracos, brisas, vícios
temperaturas, intensidades e tensões

Quero voltar de onde ainda nem chegamos
Porque o prazo já passou e já faz tempo
Não vale o risco de um último passeio
Não vale a insensatez de sentir saudade

Todos os poemas são de amor


Dos desencontros


Depois de ter dado meu coração
numa bandeja parecida de prata
e oferecido minha costela para ela
num dia que foi feito de camas
foi que ela me disse:
olha, até foi bacana
mas acontece que sou vegetariana.

******

Canção do coração despedaçado no fundo do poço

AAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHH...
(o poço não tem fundo)

*******

Triste nos trópicos

Era um dia sombrio
E era um dia de sol
Porque não dá pra ficar sem um dia sombrio
no período de seis meses
E logo a gente aprende a ficar triste
nas mais diversas temperaturas

********

O bêbado e a desequilibrista

Não recomendável
esse pulverizado amor
de tão arriscado
Vagarosamente casual
e um tanto quanto insólito
A saudade que vai dar é daqueles beijos vermelhos
de elevadíssimo teor alcoólico

sábado, 22 de agosto de 2009

Enquanto eu fujo da tentação do nonsense,vou postando os outros:

Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único bêbado bebe um único copo de Bourbon, contemplado por um único garçom. Ao fundo, Tom Waits geme um único verso arranhado. Rouco, louco.
Meu coração é um filme Noir projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês.
Meu coração é um deserto nuclear varrido por ventos radiativos.
Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar Frankensteins monstruosos que sempre acabam destruindo tudo.
Meu coração é uma planta carnívora morta de fome
(caio fernando abreu)

domingo, 9 de agosto de 2009


"Nunca estive tão consciente da lacuna entre pensar e escrever.Nos últimos dias, na verdade, comecei a sentir que a história que estou tentando contar é de certa forma incompatível com a linguagem, que o grau em que ela resiste a linguagem é a medida exata de quão perto cheguei de dizer algo importante, e que quando chegar o momento de dizer a única coisa realmente importante (supondo que exista) não serei capaz."( Paul Auster)
mesmo que o poeta diga tralalá todos os poemas são de amor... seu mário quintana que disse isso ou coisa parecida com isso.E vindo dele eu simplesmente acredito, por mais bêbados que estivéssemos. ou estejamos

terça-feira, 4 de agosto de 2009


Maré cheia

No que vi o mar subir
- submergi-
O mar crescer
-sumi-

No cio do mar
Do mar no cio
Eu por um fio
porfio amar

(pra cá é mais escuro, há só um ponto de luz.
por aqui é que nasce um sol
tímido e indolor)

terça-feira, 21 de julho de 2009

Incompleto

Faz tanto tempo e é frio
do lado de cá do teu sorriso
Do lado de cá do muro
do lado de cá de tudo

Faz tanto tempo e é sempre
esse mesmo me esquecer
na ponta da língua
e dos pés
nos olhos de Deus
ou num logo mais

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Sobre duas pernas

Nesse palco e ao mesmo tempo cadafalso
proferi coisas belas e sem sentido
que comoveram profundissimamente minha platéia

mas quando quis dizer a verdade
já não escutavam
e quando quis ouvir algo
já nada diziam

que sou um parvo bardo sem poesia nem meta
foi proclamado nos quatro cantos do meu quarto
situado delicadamente depois do fim do mundo
enquanto bebia tequila como quem bebe água
e namorava absorto tuas duas pernas
eu que nunca reparei exatamente em pernas
eu que nunca reparei exatamente em nada
sou só poesia
sem poeta.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

"Sei que está tudo bem mas quero provas, e os budas e as virgens marias estão ali para me lembrar de minha promessa solene de fé nesta terra agreste e estúpida onde nós vivemos em fúria nossas assim chamadas vidas em um mar de preocupações "(tristessa- jack kerouac)
Madame morfina

por odiar despedidas
é que parto aos poucos
e meu coração eternamente partido
não me deixa ficar
Por querer demais
é que te morro aos poucos
pra me desfazer de ti
aprendi a me machucar
aprendi a não mais
me importar
em sentir a dor de doer
"desde tempos imemoriais e adentrando o futuro sem fim, os homens amaram mulheres sem dizer a elas, e o senhor os amou sem dizer, e o vazio não é vazio porque não há nada para ser esvaziado(...)suave é o chuviscar que perturbou minha calma."(tristessa - jack kerouac)
Se ousasse me matar eu também me mataria

Encara-me a frio
o convite tão terno e cínico
do arauto do desespero
Encara o que sou, o que somos
e o ridículo de teres medo
Quem no fim das contas
não é nada demais em si mesmo
nunca tem nada demais
para preocupar-se em perder
Encara-me a frio
e depois fecha os olhos
como quem ouve uma canção antiga
e sente saudade do que não viveu
Encara-nos a frio
e delicadamente
mande o mundo todo para a puta que pariu

segunda-feira, 1 de junho de 2009

A revelação mais bacana que me fizeram nos últimos tempos: Um dia os macacos já foram gente. Não sei bem por quê, mas isso me deu uma certa esperança

quarta-feira, 27 de maio de 2009

A faca no bucho

No meio da faca
cravada no meio
do bucho do sentimento em pleno meio dia
de dia meio santo em pleno meio fio
de um fio de cabelo de um cabelo meio comprido
descumprindo o meu desejo...

no meio de uma praia
na praia do meio,
no meio mais ou menos mais que menos do medo,
vi o sorriso da desgraça
a lágrima engraçada
eu te vi e vi você
eu me vi ao te ver

Eu vi os meus sapatos gastos
cara colada no asfalto quente
Minha lingua lambendo
a cara fria da dor ...
com calma a alma
gozando do desespero
Enquanto eu ria de ti,
do mundo, de tudo
E no meio de tudo
de mim mesmo
Querença

Minha solidão tem o teu nome
a cor do que sinto tem os teus olhos
e onde teu gosto mora
embora demore
não há mal entendido que contorne
a verdade bruta de eu te querer

segunda-feira, 20 de abril de 2009

nota complicativa

me perguntaram sobre as minhas pontuações, ou pra falar a verdade, pela quase total ausência delas.Desde que eu era criança pequena lá na distante e saudosa casa onde ainda moro, tive problemas seríssimos com pontos finais, vírgulas, freios e moderações.Desavenças de criança, sabe. De modo que quando esqueço de freiar o que escrevo, não é de propósito não.Mas eu acho tão bonito tudo suspenso, sem margens definidas, que prefiro nem tentar corrigir.Não acreditaram em mim quando disse isso.Mas não me importo, também admiro indiferenças.
viver é tão arriscoso que até a sozinhez pode matar...
adélia já tinha dito, mas só acredito pra duvidar:
tudo é bíblias, tudo é grande sertão veredas

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Timidez

Queria beber
durante longas horas
o teu olhar
sentir em meus pulmões tua
respiração
tragar teu ar
Mas chega a hora
e desmorono ao te ter por
perto
Agora me engole o chão
então desaba o céu, o teto
E até o dia anoitece
apressado e triste
por tudo que inevitavelmente
vai dar errado
e pelo tanto que
já não me interessa o certo

domingo, 15 de março de 2009

Mais um poema que escrevi pro meu orkut. Essa parada de quem sou me incomoda pra caralho.E pra que diabo eu quero que os outros saibam quem eu sou? eles nunca vou saber (não é um erro, é um ato falho).

Auto-retrato póstumo (de olhos fechados e sem as mãos)

Venho do tempo que é antigo
Nasci um dia depois de ontem
No meu solene retrato em preto e branco
eu mesmo rabisco bigodes e chifres
ternos remendos aterrorizantes

O meu passado é uma só promessa
O meu futuro é que é um trapo velho
Sou uma síntese
o recomeço de um declínio
eu sou aquele que me espero

terça-feira, 10 de março de 2009

O eterno estorvo, o retorno

Tudo de novo
os olhos perdidos no espelho
a velha esperança rolando as escadas
o mundo mergulhando mais fundo
e eu a cada dia mais raso
e eu a cada dia a um passo
e passo para onde nem sei
para onde inevitavelmente irei estar
onde é tão fácil a chama apagar
nos velhos olhos perdidos e vermelhos
da esperança já desdentada

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Eu também quero postar ( ou carta convite para um pseudo-suicídio casual e virtual)

Eu havia prometido pra nossa senhora do sagrado coração de maria e pra são chico de assis que eu jamais, sob hipótese nenhuma, nem sob tortura iria postar poesia de nenhum outro sujeito aqui que não minha ou de algum pseudo eu. Mas como essa não vai ser a primeira vez que vou descumprir uma promessa, nem vai ser a ultima que vou me perdoar , gostaria de mostrar isso ao publico infiel e casual e sem compromisso e carpe diem e liquido e pós moderno e o diabo a quatro de cabeça pra baixo que por acaso, ou por obra do destino, ou de Alá, ou jeová ,ou daquele que não se diz o nome (o que deve causar um problema de auto identificação no tinhoso) entrar nesse blog:


silêncio
e porque tudo
queremos dizer...

nunca temos tempo
de dizer nada...

Isso é de um cara que atende ou atendia pela alcunha de j. g. de araujo jorge. Bom o cara, né? não, eu não acho. fraquinho. Mas tem uns insights massas como num outro poema chamado vício e outro chamado desculpa e uns outros inapropriados para menores de 18. Fiquei pensando nesse tal de silêncio e ele me levou a pensar na quantidade monstruosa de pessoas que escrevem sobre suas intimidades não já tão intimas, seus desatinos e confissões e crimes e pecados e paixões num blog. Ou pensam que estão escrevendo sobre isso, porque as vezes não passa de uma repetição de clichês já repetidos de outro blog, que repetiu de outro...
Me fez lembrar também da agonia de neruda se questionando sobre o que seria dos poetas se todos virassem poetas. A figura do leitor de poesia é necessária.Não pode ser ela substituida pelos próprios poetas que viveriam de retroalimentação.? Pode. Mas todo mundo sabe como esses tais de poetas são figuras narcisícas. A coisa acabaria virando uma troca de favores: Você quer ler meu livro de sonetos póstumos ? . -Ah, sim claro, mas só se você ler e gostar das minhas crônicas anacrônicas pós contemporâneas.
Um futuro terrível nos aguarda. E o pior é que quanto mais se diz sobre tudo, mais se diz nada com nada.Não que eu tenha algo contra o nada.Só não havia mais nada pra falar e eu comecei a enrolar pro post ficar mais longo e eu parecer mais inteligente e criativo .
Blogueiros do mundo todo, uni-vos, e desistam da carreira de escritores pelamordedeus. !!!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009


poeminha vermelho
Esconda-me, é favor,
no calor dos teus segredos
Me rasga esse pensar em voltar com os dentes
que os lábios vermelhos
me fazem esquecer
quando de esquecer
eu nem me lembro
me fazem esquecer
me esquecer


Te disse e não renego
eu afeto desilusão
como quem diz: enxugo mas não seco
o gelo da solidão
Te disse que não nego
tento em ti desencontrar
no avesso do que é certo
na tua pele me afogar

Esconda a minha dor
sob a cor dos teus cabelos
Me rasga esse pensar voltar com as unhas
que teu esmalte vermelho
me faz eu me perder
quando me perder eu nem tento
me faz eu me perder
no teu segredo
mais denso


sábado, 17 de janeiro de 2009

Resolvi republicar a primeira poesia que coloquei nesse blog pseudo espiritualista e pseudo intelectual criado por um pseudo eu mesmo. Por quê? Porque tava a fim. A presente edição foi revisada e mantida igualzinha. Só não tem a foto. E a foto é bem legal, se fosse tu ia ver. Não mudei nada porque se privasse a poesia de defeitos ( como se eu conseguisse fazer isso) não restaria nada nela para eu amar

Justificativa

Minha palavra é o sonho despedaçado
é repetição, água do mar
minha palavra é o plágio justificado
de quem não tem como a sua alma derramar

Minha palavra é poesia de dor de cotovelo,
dor de alma, dor de cabeça,
poesia dos olhos vermelhos

Minha palavra é feita de versos do avesso
Não os versos que eu quero
mas os que me vêm, os que mereço

Minha palavra é feita de minha vida,
minhas visceras e do mar em volta
Minha palavra é o que me move, o que em mim comove
é o ar que me sufoca.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Que se foda...

Ainda vou ver onde essa dor vai dar
Eu nem queria mesmo mais te ver
Nem pintada, desquarada, o que for
No varal botei o amor para secar

O teu tucum fui eu mesmo quem quebrou
O número do protocolo eu confesso que engoli
Deixei cair tuas chaves onde não fui (logo com quem)
O teu segredo dizia algo como non ultra plus, bem típico,
tipo sem mais além

Agora é só jogar ( depois) minhas esperanças
Todas de acima do décimo terceiro andar
Agora oferta uma prece, antes acende uma vela
pros inconvenientes olhos verdes que vão se fechar

Eu vou te jogar do décimo terceiro andar
Porque eu nem queria mais te ver
E eu quero mais é que se foda
Que entre soluços não encontrei uma solução

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009


Tem um sol escondido no meu quintal

Essa foto apesar de já ter aparecido num outro blog por aí é minha, minhazinha da silva. Na verdade é a foto de um quintal. Do meu ex-quintal. Tudo tem virado ex. Tenho colecionado ex algumas coisas. É um ex-quintal, é um ex-jardim.

É, de fato, ando meio nublado. A culpa é desse negócio de ano novo, essa onda de otimismo, essa energia e boas vibrações e diabo a quatro. Com tanta esperança sem fundamento algum não tem quem não fique down, até porque todo mundo sabe que no fim das contas as contas nunca chegam ao final. E Deus viu que isso era bom.

Mas voltando pro quintal, se você olhar pra cima vai ver que tem um sol escondido entre as folhas. Mas tem que olhar pra cima. Mensagens de otimismo nunca foram comigo, mas o que a gente não faz pra tentar provar que é livre, que é imprevisível?