quinta-feira, 27 de agosto de 2009


Em vésperas de saudade


Da cidade, hoje, quero o silêncio
sem toques de tambor
transes pelas esquinas
assembléias de deus
ou legislativas
nenhuma maneira de ver
o que ali não está

Dessa província em que a gente não cabe
quero um só retrato: o mais nítido
todos os buracos, brisas, vícios
temperaturas, intensidades e tensões

Quero voltar de onde ainda nem chegamos
Porque o prazo já passou e já faz tempo
Não vale o risco de um último passeio
Não vale a insensatez de sentir saudade

Todos os poemas são de amor


Dos desencontros


Depois de ter dado meu coração
numa bandeja parecida de prata
e oferecido minha costela para ela
num dia que foi feito de camas
foi que ela me disse:
olha, até foi bacana
mas acontece que sou vegetariana.

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Canção do coração despedaçado no fundo do poço

AAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHH...
(o poço não tem fundo)

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Triste nos trópicos

Era um dia sombrio
E era um dia de sol
Porque não dá pra ficar sem um dia sombrio
no período de seis meses
E logo a gente aprende a ficar triste
nas mais diversas temperaturas

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O bêbado e a desequilibrista

Não recomendável
esse pulverizado amor
de tão arriscado
Vagarosamente casual
e um tanto quanto insólito
A saudade que vai dar é daqueles beijos vermelhos
de elevadíssimo teor alcoólico

sábado, 22 de agosto de 2009

Enquanto eu fujo da tentação do nonsense,vou postando os outros:

Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único bêbado bebe um único copo de Bourbon, contemplado por um único garçom. Ao fundo, Tom Waits geme um único verso arranhado. Rouco, louco.
Meu coração é um filme Noir projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês.
Meu coração é um deserto nuclear varrido por ventos radiativos.
Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar Frankensteins monstruosos que sempre acabam destruindo tudo.
Meu coração é uma planta carnívora morta de fome
(caio fernando abreu)

domingo, 9 de agosto de 2009


"Nunca estive tão consciente da lacuna entre pensar e escrever.Nos últimos dias, na verdade, comecei a sentir que a história que estou tentando contar é de certa forma incompatível com a linguagem, que o grau em que ela resiste a linguagem é a medida exata de quão perto cheguei de dizer algo importante, e que quando chegar o momento de dizer a única coisa realmente importante (supondo que exista) não serei capaz."( Paul Auster)
mesmo que o poeta diga tralalá todos os poemas são de amor... seu mário quintana que disse isso ou coisa parecida com isso.E vindo dele eu simplesmente acredito, por mais bêbados que estivéssemos. ou estejamos

terça-feira, 4 de agosto de 2009


Maré cheia

No que vi o mar subir
- submergi-
O mar crescer
-sumi-

No cio do mar
Do mar no cio
Eu por um fio
porfio amar

(pra cá é mais escuro, há só um ponto de luz.
por aqui é que nasce um sol
tímido e indolor)