sábado, 16 de março de 2013

Íntima desconhecida

A morte é sempre uma invenção recente
a descoberta feita neste instante

a apenas então reconhecida
a desconhecida intima distante

a morte é um pesadelo
e pesadelos também são sonhos
metade é feito medo
o resto é feito anseio
o curto-circuito do desejo,
a saída para a falta do remédio
o sem jeito

e dai mesmo
o nó que ninguém atou aperta
basta estar perto -
o longo silêncio
de ensurdecedores corredores
me aterra
o fio da vida quando tua vida
é por um fio
me enreda
faz brotar um riso medroso
uma flor desvirginada
uma desnecessária confissão

não reconheço teu corpo insistente
porém, ha rastros ainda
de repetidas palavras fugitivas
saltando, clamando, dizendo na ponta da língua
me pedindo que eu voltasse
e para ali te reencontrasse

talvez onde tu já não estivesse
ou será que ainda estaria?
sinceramente o que poderia dizer
a não ser apenas não sei?

construí versos e lamentos
com a triste matéria prima de um temor concretizado
e por essa hora
nem tem mais tanta importância
os planos desfazem-se com a lembrança
do almoço de ontem, a conta paga,
o caso,
o acaso
o ocaso..

as lágrimas secam, mesmo as que
nem foram choradas
e hoje só recordo teu outro
desejado nome
aquele que antes
por algum aborrecido motivo
para tua aborrecida mágoa
foi por mim esquecido.