quinta-feira, 27 de setembro de 2012

a noite toda esse dia
possuía uma beleza indecisa
como a lua refletida
num esgoto a céu aberto

terça-feira, 11 de setembro de 2012

pedaços

Preciso que perdoe a calma
me consinta a falta
e escute os delírios

Preciso te trair e mudo
morder a luz do dia
nos arrancar um pedaço

Pintar nosso retrato
espelhado em teus olhos
de preferência fechados

Preciso não precisar de nada
esquecer a rima,
me desfazer na rua

Arruinado no rastro escuro
de alguma qualquer outra
sedutora ruína

eu te busco o pretexto
para diluir em verso
o amargo próprio do absurdo

Expor em termos próprios
a imprópria ferida
e esquecer os motivos

domingo, 9 de setembro de 2012

depois do uivo

Gastei dois dias tentando escrever um bom poema
mais uma hora inteira tentando chorar em vão
Gritar eu sei que já não poderia
Os vizinhos poderiam vir a desconfiar nesse mesmo dia
Da grandissíssima e miserável verdadeira verdade absoluta

E quando por fim a solidão começa a deixar marcas em meu corpo
eu me curvo dolorido diante da total falta de sentido
diante de nossa adorável falta de imaginação
Esperando por uma primeira vez em que uma primeira voz
me arrancasse do pântano familiar de minha mente atordoada
choques constantes de realidade e vergonhosa lucidez impotente
sonhando minha cabeça recostada em teu colo sagrado.

ao tocar tua veste te pedir perdão
em nome de toda estupidez existente
de toda a estupidez da existência
queria urgentemente que ela voltasse
e que avidamente a vida se remendasse
enquanto vomito minha velha náusea em um canto
de dentro do meu vômito
posso ver brotar a flor de lótus
do meu desespero
limpidez não virgem pura ardente
gole dágua fria filtrada no escuro
enquanto me dou conta de tudo que não aconteceu
eu levei mais de dois dias chorando estes versos em vão.