sábado, 22 de janeiro de 2011

Sob encomenda

Eu nunca precisei te fazer um poema
A não ser esse poema
que diz que não o fiz

Diz como quem diz no escuro
Como quem olha no silêncio
e sabe que tanto faz

Tanto faz esse poema
Tanto faz o pra quem seja
não diz mais
do que o nada demais:

Apenas o exatamente impreciso
o estritamente vago
o vulgarmente raro

O que não te escrevi
Está escrito em ti
E eu não sei bem te ler
Se fosse fácil, transcreveria
E tu acharia que eram minhas
as palavras tais
Um poema já nasce feito
Não se faz

Há sombras de versos dionisíacos
em teu olhar
auroras acalentadoras em tua voz
e desatinos intraduzíveis em teu desejo

Do que sei dizer: só.
Não olho,
entrevejo.