terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Três meses/Sete diaas

mal o sol nasce
vem e se põe
mal se opõe
o sol nos renasce
vida condenada
a não ver o seu fim
reencarnando sucessivamente seu sim
ressurgindo em seu perfeito estado febril
Sua massa informe, seu soberbo Si mesmo
Assim, meu inflamado afeto é afeito
a eclipsar-se dia após noite
em busca de seu semblante final
Inalcançável, por sinal
Incansável em se suceder
compondo em seu desvanecer
sua incandescente e crescente certeza
forte, violenta e não menos aflita
o sorriso dela
do nascente ao poente
é a mais bela parte de minha lida
Meu amor: fogo de uma vela de sete vezes sete dias

sábado, 2 de novembro de 2013

Enamorado

Agora mal sei
quem elas outras são
apenas sei que você é
a andorinha só
que faltou para fazer
o meu verão.

sábado, 26 de outubro de 2013

chuvisco

fica até difícil respirar
no meio de tanta certeza
inunda-nos uma tristeza
de quando os vidros
estão empoeirados
e a chuva não é forte o bastante
para se impor

o que resta,em que me arrasto
é um horizonte enlameado
onde os sonhos não cabem
onde só o que nos cabe
é a insônia de quem sequer acordou

sábado, 16 de março de 2013

Íntima desconhecida

A morte é sempre uma invenção recente
a descoberta feita neste instante

a apenas então reconhecida
a desconhecida intima distante

a morte é um pesadelo
e pesadelos também são sonhos
metade é feito medo
o resto é feito anseio
o curto-circuito do desejo,
a saída para a falta do remédio
o sem jeito

e dai mesmo
o nó que ninguém atou aperta
basta estar perto -
o longo silêncio
de ensurdecedores corredores
me aterra
o fio da vida quando tua vida
é por um fio
me enreda
faz brotar um riso medroso
uma flor desvirginada
uma desnecessária confissão

não reconheço teu corpo insistente
porém, ha rastros ainda
de repetidas palavras fugitivas
saltando, clamando, dizendo na ponta da língua
me pedindo que eu voltasse
e para ali te reencontrasse

talvez onde tu já não estivesse
ou será que ainda estaria?
sinceramente o que poderia dizer
a não ser apenas não sei?

construí versos e lamentos
com a triste matéria prima de um temor concretizado
e por essa hora
nem tem mais tanta importância
os planos desfazem-se com a lembrança
do almoço de ontem, a conta paga,
o caso,
o acaso
o ocaso..

as lágrimas secam, mesmo as que
nem foram choradas
e hoje só recordo teu outro
desejado nome
aquele que antes
por algum aborrecido motivo
para tua aborrecida mágoa
foi por mim esquecido.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Mítico

Forjar um destino
no caos do acaso,
caçar figuras
na desordem da espuma do mar,
em turbas de tresloucadas nuvens
ou desvairadas inúteis estrelas,
tecer com retalhos de absurdo
o contínuo desenrolar-se
de nosso amor mal amado e gratuito
– e é tudo
como se fosse um mesmo e único desatino
quando o coração volta a ser menino
e distraído,
do frio e envelhecido ofício da razão escondido,
diz Não,
é impossível.
De que me vale então o dia?
Que mistérios carrega a noite? pra onde se encaminha a vida?
O que de sábio me conta céu?
Contra quem arremete o mar?
Qual o final feliz das despedidas?