quinta-feira, 25 de março de 2010

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Ele carregava o seu próprio cadáver no olhar
e toda escuridão vinha de suas palavras
Ele havia decidido e dessa decisão
o mundo todo dependia
e enquanto o mundo pendia
Ele contava os seus passos
distraidamente sobre as poças iluminadas
Morrendo de medo
de que algo, qualquer coisa
rompesse o tênue instante
onde tudo era claro e límpido em sua alma
E quem acompanhava, olhava de longe
porque ele abraçara a solidão
e eles dois lhe bastava

Sentira o metal frio em sua mão
tão frio e pesado como a luz daqueles dias
o cano na sua cabeça, de olhos tão bem fechados
o silêncio imenso e absurdo...
quando então fez-se mais escuro
da noite o que escuro já estava
já era hora, rompeu-se a mágoa
E com um gesto de impaciência
ele volta pra casa.

Cruzou por mim e passou, só passou
como quem não cruzasse por nada
e apenas confere seus passos
tristes, sobre as tristes poças iluminadas

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