segunda-feira, 12 de novembro de 2012

não-correspondido

Caminhos tintos, suaves
logo após
longos e entorpecentes
e intermináveis
vinhos.
Venho
das solidões atordoadas
por tua beleza
chuvosa,
esquiva,
simples.
Volto pra casa repleto
dos deveres não cumpridos.
Cumprimento a chegada do dia
com um gesto aberto,
pleno de vazio.
Beijo como fosse a lápide
do amigo mais querido
o livro de nossos dias juntos
não vividos,
não escrito.
Fecho teus olhos e sonho
com teus olhos abertos
va-ga-ro-sa-men-te
me consumindo,
até que as lágrimas
e o branco da lua
possam me apagar
de tua rua.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

a noite toda esse dia
possuía uma beleza indecisa
como a lua refletida
num esgoto a céu aberto

terça-feira, 11 de setembro de 2012

pedaços

Preciso que perdoe a calma
me consinta a falta
e escute os delírios

Preciso te trair e mudo
morder a luz do dia
nos arrancar um pedaço

Pintar nosso retrato
espelhado em teus olhos
de preferência fechados

Preciso não precisar de nada
esquecer a rima,
me desfazer na rua

Arruinado no rastro escuro
de alguma qualquer outra
sedutora ruína

eu te busco o pretexto
para diluir em verso
o amargo próprio do absurdo

Expor em termos próprios
a imprópria ferida
e esquecer os motivos

domingo, 9 de setembro de 2012

depois do uivo

Gastei dois dias tentando escrever um bom poema
mais uma hora inteira tentando chorar em vão
Gritar eu sei que já não poderia
Os vizinhos poderiam vir a desconfiar nesse mesmo dia
Da grandissíssima e miserável verdadeira verdade absoluta

E quando por fim a solidão começa a deixar marcas em meu corpo
eu me curvo dolorido diante da total falta de sentido
diante de nossa adorável falta de imaginação
Esperando por uma primeira vez em que uma primeira voz
me arrancasse do pântano familiar de minha mente atordoada
choques constantes de realidade e vergonhosa lucidez impotente
sonhando minha cabeça recostada em teu colo sagrado.

ao tocar tua veste te pedir perdão
em nome de toda estupidez existente
de toda a estupidez da existência
queria urgentemente que ela voltasse
e que avidamente a vida se remendasse
enquanto vomito minha velha náusea em um canto
de dentro do meu vômito
posso ver brotar a flor de lótus
do meu desespero
limpidez não virgem pura ardente
gole dágua fria filtrada no escuro
enquanto me dou conta de tudo que não aconteceu
eu levei mais de dois dias chorando estes versos em vão.

domingo, 12 de agosto de 2012

A pata da Gazela

O efeito da solidão é similar
ao de certas substâncias.
Faz prestar atenção
naquilo que em condições normais de temperatura e pressão
passaria por ti
e passaria batido:
o pássaro atravessado no horizonte,
a janela quebrada no mirante
o gato no telhado -
que meditativo contempla o nada.
mais nada

ao me apaixonar pelo pé da mesa
onde havia a moça ao lado
enamorei-me do pé da moça
e no resto dela eu esqueci
o esquecer
que é como efeito de certas solidões.

domingo, 22 de julho de 2012

Redenção

Domaram o cavalo e são jorge
Arriaram o dragão da lua
os herdeiros de indivisível dívida
cansaram de dividir desculpas
Os ditos reis da ruína
os bem providos de falta
os opulentos da fome
os abençoados com chagas
os que se chamavam sem nome
Agora se chamam redentores de nossas almas
Os poemas natimortos
são as novas
velhas escrituras sagradas
e a verdade sentada no trono
nem se acanha de ser várias
******

Moça, em teus olhos há um abismo
um precipício de olhos profundos
Onde afundam o meu desejo, meus navios
minha nau, terras recém-descobertas
Retira agora o véu que te cobre
E te recobra o que resta de lucidez
É nos teus olhos de naufrágios
que despetalo os meus cinco
sem-sentidos.
Sequer é minha

nada me prende a nada
é essa a frase, e sequer é minha
e nem mesmo aquela vírgula
que foi parar no lugar errado,
vindo deus sabe de onde
Mas onde é mesmo que eu estava?
Ah,
NADA - me prende a - NADA
- é essa a frase e sequer é minha,
mas estou preso a ela
e toda ela me contamina
nada me prende, ah, nada
é essa frase e nem sequer é minha
"Foda-se"
é a boa nova
pichada nos muros
escuros
dos bairros iluminados

sábado, 7 de julho de 2012

antes que seja cedo

Não esperem por mim, não esperem nada de mim. Meu jeito não tem jeito de caber no sonho de ninguém. o que sou é assim, "o ainda por fazer", espaço em branco na folha rabiscada por outro alguém.Fim
Reflexões tardias mergulhadas no café da manhã

Isso de escrever poemas pra mulher amada é realmente algo demode. Não funciona mais, não tem tempo. A história quase sempre acaba antes mesmo de tu conseguir terminar o poema.

No lugar de adeus

A parte de mim que eu mais gosto é de ti
e enquanto o velho levava as flores para onde agora
não havia ninguém
eu achava triste e você apenas sorria
(eu gostava do seu sorriso também)

Uma santa ignorância, uma puta dor no peito
o chá de camomila me fazia bem
Você disse até logo no lugar de adeus
e o único erro,
a merda toda
é que eu quase te amei.
Reflexões noturnas mergulhadas no café da manhã

Somos todos desprezíveis pois em certa medida todos chegamos a conhecer o desprezo. Entretanto, raros são os momentos em que nos damos conta do quanto o desprezo de certas pessoas não deixa de ser uma espécie de mérito, mesmo uma honra.

domingo, 17 de junho de 2012

e tem o Mar

tem dias que passa um século sem eu te ver
e estranho é o encontro
do meu desejo desencontrado
com teu cheiro doce,
com teu gosto quase-delicado,

é eu lembrar de cada vestido
e Achar bonito o que tu acredita
sentir meus sentidos estranhos
é agora querer Ir crente da despedida.

não gostar mais do gosto da saudade
a presença da ausência no meio da casa
querer antes a pedra no caminho
que esse sentimento
não consentido
que a tua falta.


teus olhos carregam uma mágoa antiga
já petrificada
e me Recordam que nada
é de todo suficiente
- algumas cartas já foram dadas

levo As mãos ao rosto
enquanto conto esse segredos a todos:
os sinais eu não sei ler,
eu não sei saber
aceitar o que vem
e principalmente o que tem que ir
a que veio com olhos de querer partir

( o destino?
eu não conheço

começa a haver
de tanto a gente não o cumprir
e pra isso é todo caminho traçado
fazer entrever nos seus limites
a possibilidade do êxito-fracassado:
a morte de tudo que vive
o atalho pro fim.)

sábado, 31 de março de 2012



necessário

Vale a pena
ou vale
apenas
na lama lavar
a alma
pequena?

um monge longe
arranha o céu
estraçalha-se
um lisonjeio
contra a vidraça
teu corpo esculpido
na minha sala
testemunha um
verdadeiro holocausto
de sentimentos.

sábado, 10 de março de 2012

Recado que ninguém deixou

Um dia eu me convenço que eu não me importo, e enquanto você estiver ocupada estragando tudo ao redor, vítima indefesa de si mesma, eu vou seguir conferindo as poças d'agua que refletem as porras das inúteis estrelas, tão estúpidas e lindas quanto você

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Elvis não morreu
Quem morreu fui eu
E na ultima foto
Ao seu lado
Eu estava vendo tudo
Com os olhos fechados
Fingi que você era quem nunca foi
Você também fechou os olhos e acreditou.

Procurei a distancia pra não correr o risco
De eu me encontrar
E querer saber
O que se passava com tudo que ainda
Não passou
Sem dar satisfações,
Sentei-me à beira do acaso
Pensando em tudo que não era você
Apenas por não te ser.


Ao longe, Uma canção tão triste
que de tão triste nunca existiu
O fantasma que deu pra ser meu par
me falou de coisas espantosas
Que eu não gostei de saber
Eu senti o ódio fazendo malabares no meu peito
Tentei te matar em pensamento
Mas no próprio pensamento a mira eu errei.
tentei em mim: problema resolvido,problema meu.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Poeminha fúnebre

A vida é uma piada que eu ainda não entendi.
E tenho pra mim que no meu leito de morte,
nos meus últimos suspiros,
há de se esclarecer tudo,
e eu vou morrer é de rir.
Sem açúcar

Tentem não ficar chateados quando digo: não gosto de vocês.
Prometo que de anteontem em diante tudo isso há de mudar.
Aí então vou pra qualquer lado ser amigo de infância de qualquer um,
espero que isso me leve a algum qualquer lugar.

Coitado do álvaro de campos que tem tanta pena de si,
e eu que nem tenho agora também quero ter.
Sei que Deus ajuda quem tem um pássaro na mão.
Sei que gosto de rir de tudo e um pouco de me perder.

Tentem gostar de mim mesmo quando digo que não gosto de ninguém,
quando digo que de vocês é que eu não vou sentir falta.
Sou um velho sentado numa cadeira de balanço na porta de casa
fumando um charuto que nunca termina
tomando chá de camomila.
(sem açúcar)

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Quão ridículo é o medo de ser ridículo?

quanta solidão pode caber numa pessoa?
quantos pensamentos tristes numa lágrima só?
quantos pedaços tem um coração despedaçado?
quantos dentes tem a vontade de fazer alguém sorrir?
quanta fé tem repetida num terço?
quanto é o terço de uma pessoa partida ao meio?
quanto de vida é preciso até morrer na hora que tem que ser?
quanto desse canto eu preciso pra estancar esse tanto...
esse tanto sentir sem saber?
Mirante

Quando essa ilha se acabar
no escorregadio afago da serpente
ou enquanto um engarrafamento qualquer
subitamente nos congestionar a alma,
eu te quero ao meu lado:
eu, tu e uma garrafa,
que essa história de morrer
ainda deve de dar alguma sede,
e morrer de sede a essa altura
não passaria de uma piada sem graça.

O que eu não quero é estar longe,
perder a vista do fim no alto de um mirante,
mirar teus olhos e os meus nos teus os meus
nesse réptil, fugaz e sublime instante.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

XXXXXXXXX

Talvez o maior erro seja
tentar não errar
O dia nasce todo dia sem se importar em saber
o que é melhor ou pior,
custar ou se apressar
O que falta ser feito
e o que não se devia fazer.

Por não saber o nome do que sinto
eu não devia sentir?
O indefinido tem seu próprio tempo
o tempo preciso de que precisar
o teu olhar tem uma cor que me dói
e no teu sorriso eu me sinto emergir
por não conseguir explicar eu não devo
falar?

Eu não sei como dizer,
sequer o que dizer
e o seu porquê
o sentimento do indefinido
é definitivamente vivo e ele há
de me levar
a qualquer lugar que seja
o qualquer lugar em que tu está.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Morrer e depois dormir

a dor é sempre do lado esquerdo
quem não quer saber é que sabe do mal
O dia dura, no mínimo, o dia inteiro
O ponteiro do relógio é um punhal
um minuto, incerto, pode ser eterno
certeiro, um minuto dura um minuto e ponto final
quem não quer lembrar
é por não saber esquecer
não saber deixar morrer,
e depois ir dormir.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Sonho

Era como se o começo fosse o fim
Como se o fim fosse o final
Era como se o "como se"
Fosse o que houvesse de mais real
Era como se hoje fosse ontem
E o amanhã uma espécie de sentir-se mal
Era como se eu mesmo não fosse o mesmo
O sonho fosse sonho para dentro de si
E o "como se fosse" não fosse nada a mais
que o nada demais
E era como se
Como se fosse o como é
fosse tudo exatamente igual

domingo, 15 de janeiro de 2012

XXXXXXXXXXXXXXX

Às vezes eu me esqueço:
eu não me importo.
às vezes me importo tanto
que me esqueço