quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Bilhete de quando é tarde

Quando você puder
finalmente vir me olhar
- deixa pra lá
deixa por aí
- aqui
eu quieto em mim

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Sábio conselho

Aquele velho preceito
que diz:
conhece-te a ti mesmo
No fundo só serve
Pra gente perder
nosso próprio respeito
Levantamento

Entre
mortos
e feridos
todos
de alguma
forma
acabaram
morrendo

domingo, 5 de setembro de 2010

XXXXXXXXXXXX

Doido do pé
E doente da cabeça
Não sei sambar
Nem ser feliz sozinho
E mesmo ao duvidar
chego a crer que é possível

Não sei sambar
Nem acho sofrer bonito
Não acho o que procuro
Nem lembro de já ter lembrado
Pra me dar o luxo de ter esquecido
No país do futebol
Roleta russa ainda é meu esporte favorito

quarta-feira, 25 de agosto de 2010


Me sinto irmanado com os poetas. Não porque vejo o que escrevo como propriamente poético. Antes porque, seja o que for que eu veja, ali mesmo está a poesia, ainda que encoberta ou talvez tal qual ela não seja. Mas é de poesia que se trata quando não se trata de qualquer coisa.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

o pesadelo ( isto não é um poema; é um pesadelo)

Um turbilhão de poetas
despejando palavras incompreensíveis
na minha retina

erguendo altares
a seus calos,
dores
e receios
Um turbilhão de poetas
E nenhuma poesia

Em mim apenas
a vontade de berrar-lhes no ouvido
Até estourar-lhes
o crânio
e tirar-lhes
o que eles pensavam que era a vida.

Se há tantos poetas para que
querer poesia?
Para que poesia
se há já tantos poetas?
No pesadelo eu vi
Na ultima derradeira esquina
A poesia é uma velha desdentada
e faminta
cotidianamente estuprada pelo despudor
dos que se dizem poetas

sexta-feira, 28 de maio de 2010

O último apaga a luz
P.S

Leitura não recomendada para menores de três anos por conter postagens pequenas que podem ser engolidas
Conclusão

Hoje li várias páginas em branco
E não conclui nada
Mas as páginas precisavam ser em branco
Pois não há nada a concluir
E iniciar qualquer coisa
É precipitar-se no fim

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Um ponto a-final

No fim de tudo
o início da semana
finda a semana
o poço é sem fundo
sexta treze
sexta santa
cesto de lixo
poemas prematuros

cinzas de cigarros
minha mão na tua
e as tuas duas mãos
tão bem atadas
de longe vejo
o que está mais perto
distante ouço
o teu sussurro
grito semi-verdades
e sem querer concluo
para melhor nadar
deixar-se afogar
e o único afago
é o silêncio do fim
no fim de tudo
a beleza de um sóbrio
e sombrio ponto final.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Amaríssimo é o meu verso de amor meio amargo


Cultivei no jardim de inverno do meu silêncio as rosas-palavras certas. Para encantar e seduzir, eu admito ( não me envergonho que é de meu gosto), porém, e talvez principalmente, para machucar a mão descuidada. Me embeveço, então, de olhares ternos e pequenas( e docíssimas) gotas de sangue. De afetos e desafetos é que eu vivo. Me obrigue a tudo, só não me condene a uma vida sem paixão.

(maria das dores)

domingo, 18 de abril de 2010

Às vezes Deus me tira a poesia.
Olho pedra, vejo pedra mesmo
(Adélia Prado)

sábado, 10 de abril de 2010

história de amor

Na rua mais deserta que pude achar
havia só uma casa e parecia conter
toda a vida que podia haver por ali:
gritos, luzes, música, festa
E ela veio de lá
Disse-me: eu teria que esquecer
Expliquei-lhe que vim da solidão
dos lugares feitos tão mais altos
onde só resta o ofício de lembrar
porém seus olhos eram tão lindos
tão lindos e tão claros
que eu tive vontade de morrer
tão lindos e tão claros
que tive a necessidade de lhe matar

domingo, 4 de abril de 2010

*******
Tua presença é feito um mar
que arrasta ao fundo minha dor
mas teus olhos feitos d'água
nunca pude decifrar
E se decidido estava
a deixar tudo no meio
tu me lanças vida abaixo
na vertigem de um sorriso
E o que antes era medo
é o que agora eu sigo cego
o meu reino por um resto
de compreensão num mundo alheio

Não me entenda errado

nem certo

Não há nada a ser traduzido

O que eu sinto nem tem nome

mal começa e já está findo
mal findo e recomeça
*******2
Tua presença é mesmo um mar

Que me arrasta outra dor
mais fundo que eu quero chegar

é onde não estou
uma ausência que invade
a vertigem que aumenta
que alenta sendo mágoa
uma mentira tão sincera
e eu te aumento com meus préstimos
eu te engano e a mim mesmo

te encaixo em cada plano
depois desfaço todos eles
eu sacrifico em teu altar

oferto vidas em segredo
mee abraço com tua sombra
e nela eu me perco

principalmente eu me perco
no perfil de teu espanto
O que eu digo são os restos
são feridas que eu mesmo estanco

Onde que mora o meu medo?
Onde é o medo que tu mora?
Há certos gestos que eu não esqueço

quinta-feira, 1 de abril de 2010

******
E disse a esfinge:
devora-te ou te devoro

quinta-feira, 25 de março de 2010

*******
Ele carregava o seu próprio cadáver no olhar
e toda escuridão vinha de suas palavras
Ele havia decidido e dessa decisão
o mundo todo dependia
e enquanto o mundo pendia
Ele contava os seus passos
distraidamente sobre as poças iluminadas
Morrendo de medo
de que algo, qualquer coisa
rompesse o tênue instante
onde tudo era claro e límpido em sua alma
E quem acompanhava, olhava de longe
porque ele abraçara a solidão
e eles dois lhe bastava

Sentira o metal frio em sua mão
tão frio e pesado como a luz daqueles dias
o cano na sua cabeça, de olhos tão bem fechados
o silêncio imenso e absurdo...
quando então fez-se mais escuro
da noite o que escuro já estava
já era hora, rompeu-se a mágoa
E com um gesto de impaciência
ele volta pra casa.

Cruzou por mim e passou, só passou
como quem não cruzasse por nada
e apenas confere seus passos
tristes, sobre as tristes poças iluminadas

sábado, 13 de março de 2010

****
Um dia de mar pra acalmar meu peito
Que é descompasso por não saber de ti
Que é o mesmo não saber de si
Que é o mesmo não saber e só

sábado, 6 de março de 2010


Buquê amarelo

Tenho medo de dizer o que eu quero
De que me entendas errado
De que me entendas certo
tenho medo de teus olhos medrosos

Olhos feitos o de criança assustada
Mas numa idade em que já não se chora
Morro de medo que me redimas agora
Talvez seja pior que tu não me perdoes

Morro de medo do medo e é medo
de ir atrás da morte quando é hora da vida
De tu me dar o que quero
De te dizer o que digo
E de me encantar mais do que devia

terça-feira, 2 de março de 2010

Silêncio cozido 2

No lixo da cozinha

a casca do silêncio
me lembra o tempo
em que eu esperava
que brotassem palavras
e mais e mais palavras
de dentro de ti

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Silêncio cozido

Minha barba de molho
e o poeta revirando o lixo da cozinha
enquanto aferventa em fogo baixo
o silêncio feito de nós dois

depois de cozido
voltamos ao mau caminho
e morremos de vontade
de morrer no nome de algum
deus em vão

domingo, 24 de janeiro de 2010

Nenhuma objeção

Lacan diz que os poetas apesar de não saberem o que dizem, sempre dizem antes dos outros.Nenhuma objeção da minha parte, só não sei se Lacan sabia o que dizia.