sexta-feira, 1 de abril de 2016

Rotina

Deparei com minha própria alma em suspeita esquina
Quis falar-lhe, e então correu sem pestanejar.
Depois tomei café amargo apenas porque não gosto
E a vida não parece ser feita para que lhe gostem.
Folheei o jornal para soar elegante como o meu avô.
Afinal, literatura é coisa para ociosos: O que, de fato,
em essência, no começo do expediente reconheço que sou
Cruzei o caminho de um conhecido, de hábito, bem-humorado
que nesse dia, para minha alegria, carregava um cadáver no olhar
Cumprimentei-o por obrigação e logo lembrei das belas pernas
de minha esposa.
Quis voltar para casa, mas casas não parecem feitas para se voltar
Faz dez anos que, ao meio dia, saio para comprar cigarros
E sempre retorno pelo simples medo de incorrer no clichê
Fiquei olhando no retrovisor um sujeito antipático e mau,
porém bem-intencionado
A esbarrar com sua alma onde menos espera.

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