Tornar-se é partir
Sou uma parte de mim
porque já sou a tempo demais
E não me poderia ser
Tanto que fui...tanto que sou
Que ainda vou
Como um anjo que perdesse a asa
Ou um deus que perdesse o amor
uma dor que nem soubesse a causa
Sei: Sou o que não sou
Para tornar-me já não basta
Trair a todos e a mim mesmo
Deixar-me em um canto, queixar-me de nada
Para tornar-me entorno-me
Para tornar-me eu mesmo
Esqueço
Tem gente que lava as mãos cinco vezes antes e depois de ir ao banheiro...Tem gente que memoriza todas as placas de carros vermelhos... Tem gente que faz dez anos de análise...Tem gente que tem mais o que fazer...Tem gente que não faz porra nenhuma... tem gente que escreve
quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
O inferno são as outras
É como se o abismo fosse mais perto. Como se houvesse algo de sagrado em beijar o chão. Eu despido de mim e por isso de mim mesmo mais perto, e talvez por isso simples, transparente, quase sincero. O lugar que eu piso diz mais de mim do que tudo que eu posso dizer. Quero e devo estar um passo a frente de me procurar. Quero e preciso me desencontrar na rua, lá fora, no meio do mar. A verdade é que eu simplesmente, eu simplesmente queria me afogar no teu olhar.
É como se o abismo fosse mais perto. Como se houvesse algo de sagrado em beijar o chão. Eu despido de mim e por isso de mim mesmo mais perto, e talvez por isso simples, transparente, quase sincero. O lugar que eu piso diz mais de mim do que tudo que eu posso dizer. Quero e devo estar um passo a frente de me procurar. Quero e preciso me desencontrar na rua, lá fora, no meio do mar. A verdade é que eu simplesmente, eu simplesmente queria me afogar no teu olhar.
sábado, 27 de dezembro de 2008
A dor de Maria das dores
Maria das Dores chora convulsivamente, desoladamente, descontroladamente, enfim, Maria das Dores chora. Depois de horas procurando no espelho mais sofrimento para conseguir sentir mais e melhor pena de si mesma, ela se atira na cama para fazer um pouco mais de drama. Seus olhos vertem lágrimas e do seu nariz também escorre alguma coisa . Essa mistura de líquidos borra os garranchos de Adnelson no caderno de poesias que o filho de uma égua havia dado a ela antes de trocá-la por um rico empresário. Mas no meio de tanta dor uma pergunta paira sobre a condescendência da histérica com a tristeza. No fundo, no fundo, ela quer saber se a vida dói por causa de Adnelson ou se ela que a faz assim por achar coisa bonita esse negócio de sofrer.
Maria das Dores chora convulsivamente, desoladamente, descontroladamente, enfim, Maria das Dores chora. Depois de horas procurando no espelho mais sofrimento para conseguir sentir mais e melhor pena de si mesma, ela se atira na cama para fazer um pouco mais de drama. Seus olhos vertem lágrimas e do seu nariz também escorre alguma coisa . Essa mistura de líquidos borra os garranchos de Adnelson no caderno de poesias que o filho de uma égua havia dado a ela antes de trocá-la por um rico empresário. Mas no meio de tanta dor uma pergunta paira sobre a condescendência da histérica com a tristeza. No fundo, no fundo, ela quer saber se a vida dói por causa de Adnelson ou se ela que a faz assim por achar coisa bonita esse negócio de sofrer.
domingo, 21 de dezembro de 2008
sábado, 13 de dezembro de 2008
Nesse final de ano tudo me lembra aquele velho verso daquele velho poema naquele velho caderno em que o velho que eu era escrevia suas considerações sobre tudo e nada. Ainda ressoa em meus ouvidos aquelas palavras a respeito de todas as metas, objetivos e promessas. De tudo o que foi escrito só ficou este verso avulso : De longe pareceu mais perto.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Se é que importa
Dá ainda que o avesso
o gosto que resta no gosto
A falta
Um quarto do terço
A sombra na falta do corpo
Ou me vou antes do começo
eu escorro com o que te sobra
Ou me vou antes do tempo
Se é que há tempo
Se é que importa
Dá ainda que por medo
que a quem falta não importa
que a quem falta nunca falta
A falta que lhe adora
Dá que eu nem mesmo dou
E é de dó de quem me tem
E é de dó de quem mais tem
E é de dó dos olhos teus
Dá ainda que por medo
que a quem falta não importa
Que a quem falta nunca falta
a falta.
Dá ainda que o avesso
o gosto que resta no gosto
A falta
Um quarto do terço
A sombra na falta do corpo
Ou me vou antes do começo
eu escorro com o que te sobra
Ou me vou antes do tempo
Se é que há tempo
Se é que importa
Dá ainda que por medo
que a quem falta não importa
que a quem falta nunca falta
A falta que lhe adora
Dá que eu nem mesmo dou
E é de dó de quem me tem
E é de dó de quem mais tem
E é de dó dos olhos teus
Dá ainda que por medo
que a quem falta não importa
Que a quem falta nunca falta
a falta.
domingo, 7 de dezembro de 2008
Um talvez
Sou quem não vai te dizer o que desejas saber
Pois se rasgasse esse véu o que seria de mim?
Se num precipício de ti despedaçar-me um talvez?
Sou quem não vai te dizer o que não queres ouvir.
No teu silêncio um sim prometes sem o notar,
te entregas sem o saber e eu te carrego sem ti.
És quem não vai me dizer o que não há para falar.
No precipício do fim despedaça-me o teu talvez.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Despedida
E agora que é tão tarde e nada mais pode ser feito?
Pouco a pouco a luz do dia se converte em certa mágoa
Tuas mãos antes tão minhas no breve espaço de um sonho
O que foi feito daquele afeto? o que se faz quando se desfazem os idílios instantâneos ?
E então eu sinto tanto por estarmos certos de certos muros
Se o que mais posso não te basta e o que me basta já não alcanças
E agora eu já nem sinto, não me peça que te explique
Ainda existe o que tu sabes, mas o que foi feito daqueles gestos?
E agora que é tão tarde e nada mais pode ser feito?
Pouco a pouco a luz do dia se converte em certa mágoa
Tuas mãos antes tão minhas no breve espaço de um sonho
O que foi feito daquele afeto? o que se faz quando se desfazem os idílios instantâneos ?
E então eu sinto tanto por estarmos certos de certos muros
Se o que mais posso não te basta e o que me basta já não alcanças
E agora eu já nem sinto, não me peça que te explique
Ainda existe o que tu sabes, mas o que foi feito daqueles gestos?
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Poesia obsessiva compulsiva 2 (Apologia)
é de um desejo irrefreável de fugir de si mesmo, de esquecer de tudo que não deve ser esquecido...de escrever como um ritual para exorcizar nossos demônios e fantasmas mais íntimos... é disso que eu quero dizer ao dizer poesia obsessiva compulsiva
é isso que quero dizer ao dizer... e não digo
Depois de despejar um certo excesso de alma nos olhos e ouvidos que não nos pediram, ou pior, que pediram, volta-se a um estado próximo do que imagino ser o nirvana. Nenhuma inquietação, nehuma dor, nenhum anseio, quase nenhum pensamento, nada, nada.
é quando por um brevíssimo instante sinto o mundo tão confortante quanto imagino o útero materno
é de um desejo irrefreável de fugir de si mesmo, de esquecer de tudo que não deve ser esquecido...de escrever como um ritual para exorcizar nossos demônios e fantasmas mais íntimos... é disso que eu quero dizer ao dizer poesia obsessiva compulsiva
é isso que quero dizer ao dizer... e não digo
Depois de despejar um certo excesso de alma nos olhos e ouvidos que não nos pediram, ou pior, que pediram, volta-se a um estado próximo do que imagino ser o nirvana. Nenhuma inquietação, nehuma dor, nenhum anseio, quase nenhum pensamento, nada, nada.
é quando por um brevíssimo instante sinto o mundo tão confortante quanto imagino o útero materno
Poesia obsessiva compulsiva
Como todo bom (e mau) estudante de psicologia eu tratei logo de procurar um transtorno psicológico de estimação. Procurei, procurei e não me faltaram opções, muito pelo contrário...mas...sim, a intimidade de meus bastidores psíquicos não está em questão. O negócio é o seguinte, por meio de um insight eu percebi que sofro de um transtorno obsessivo poético.
Não adianta procurar no cid-10 nem no dsm-IV (só nas próximas edições). Indivíduos com esse transtorno são julgados ignorantemente como pessoas instáveis, impulsivas, dramáticas, intensas e sentimentalóides. E isso é claro gera um sofrimento.
Antes que os asnos catedráticos se manifestem, não estou falando de poesia como esforço intelectual, como ofício, mas como um movimento, um jeito de olhar. Poesia é uma tentativa de dizer o impensável, de pensar o indizível. Não me restrinjo à poesia escrita, mas incluo a poesia só imaginada, a lida, a comida, a ... o que for.É uma coisa que faz cócegas no pensamento.É um jeito de dimensionar o nosso vazio constituinte e dar altas gargalhadas dessa situação trágica. Os portadores desse transtorno geralmente são pessoas mais preocupadas com o como algo acontece do que com o que de fato acontece. Os fatos devem dizer de alguma coisa que não eles mesmos.
A etiologia desse trantorno ainda não foi descoberta, mas está intrinsecamente relacionada com a sensação de permanente insatisfação, de impossibilidade de gozo completo do presente. Eu apostaria em algum distúrbio funcional do sistema límbico.
A condição de insatisfação gera uma ansiedade que pode ser em parte descarregada por meio da realização do ritual poético, da concretização da compulsão à repetição de não se repetir. A realização desses procedimentos objetiva livrar o sujeito acometido da sensação de angústia relacionada a pensamentos indesejados e repetidos. Ao contrário dos indivíduos com toc, os que possuem poc (que coisa horrível) têm um só padrão de pensamento intrusivo que pode ser expresso assim:A vida não pode ser apenas isso. Era isso o mundo? pois que passe.
Como todo bom (e mau) estudante de psicologia eu tratei logo de procurar um transtorno psicológico de estimação. Procurei, procurei e não me faltaram opções, muito pelo contrário...mas...sim, a intimidade de meus bastidores psíquicos não está em questão. O negócio é o seguinte, por meio de um insight eu percebi que sofro de um transtorno obsessivo poético.
Não adianta procurar no cid-10 nem no dsm-IV (só nas próximas edições). Indivíduos com esse transtorno são julgados ignorantemente como pessoas instáveis, impulsivas, dramáticas, intensas e sentimentalóides. E isso é claro gera um sofrimento.
Antes que os asnos catedráticos se manifestem, não estou falando de poesia como esforço intelectual, como ofício, mas como um movimento, um jeito de olhar. Poesia é uma tentativa de dizer o impensável, de pensar o indizível. Não me restrinjo à poesia escrita, mas incluo a poesia só imaginada, a lida, a comida, a ... o que for.É uma coisa que faz cócegas no pensamento.É um jeito de dimensionar o nosso vazio constituinte e dar altas gargalhadas dessa situação trágica. Os portadores desse transtorno geralmente são pessoas mais preocupadas com o como algo acontece do que com o que de fato acontece. Os fatos devem dizer de alguma coisa que não eles mesmos.
A etiologia desse trantorno ainda não foi descoberta, mas está intrinsecamente relacionada com a sensação de permanente insatisfação, de impossibilidade de gozo completo do presente. Eu apostaria em algum distúrbio funcional do sistema límbico.
A condição de insatisfação gera uma ansiedade que pode ser em parte descarregada por meio da realização do ritual poético, da concretização da compulsão à repetição de não se repetir. A realização desses procedimentos objetiva livrar o sujeito acometido da sensação de angústia relacionada a pensamentos indesejados e repetidos. Ao contrário dos indivíduos com toc, os que possuem poc (que coisa horrível) têm um só padrão de pensamento intrusivo que pode ser expresso assim:A vida não pode ser apenas isso. Era isso o mundo? pois que passe.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Justificativa
Minha palavra é o sonho despedaçado
é repetição, água do mar
minha palavra é o plágio justificado de quem
não tem como a sua alma derramar
Minha palavra é poesia de dor de cotovelo,
dor de alma, dor de cabeça
poesia dos olhos vermelhos
Minha palavra é feita de versos do avesso
Não os versos que eu quero mas os que me vêm,
os que mereço
Minha palavra é feita de minha vida, minhas visceras
e do mar em volta
Minha palavra é o que me move, o que em mim comove
é o ar que me sufoca.
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